São Paulo, SP
Foto do tatame do Centro de Excelência, Local foi visitado pela Seleção de Base.
Uma jovem promessa do judô brasileiro abandonou o sonho de seguir carreira na modalidade. Durante os dois meses em que morou e treinou no Centro de Excelência Esportiva, em São Paulo, Lucas Gongora Ribeiro, 16 anos, diz ter sofrido agressões físicas e morais de alguns veteranos do projeto do governo estadual, entre eles maiores de idade. O garoto conta que foi obrigado a lavar quimonos de madrugada e até a dançar nu para a diversão dos mais velhos.
Natural de Mococa, no interior de São Paulo, Lucas mudou-se para a capital no início de março para integrar o Centro de Excelência Esportiva, antigo Projeto Futuro, no Ibirapuera, pelo qual já passaram judocas como Tiago Camilo, Henrique Guimarães e Aurélio Miguel, todos medalhistas olímpicos, além de Maurren Maggi, ouro no salto em distância nos Jogos de Pequim.
Ele relata que no alojamento os veteranos coagiam os calouros a rasparem a cabeça, carregarem os quimonos e abastecê-los com água. O que poderia ser brincadeira tornou-se sério, segundo o jovem, com agressões físicas e humilhação.
"No alojamento, eles escolhiam o quarto de alguém, chamavam todo mundo e começavam a agredir. Na primeira vez, usaram uma ripa de madeira, depois usaram colheres. Também depilaram parte da canela com esparadrapo", diz Lucas, que já levantou títulos do Campeonato Paulista, Copa São Paulo, Campeonato Sul-Brasileiro e Campeonato Brasileiro por Equipes.
No início de maio, depois de dois meses no Centro de Excelência, o garoto abandonou o projeto e retornou a Mococa, onde acredita que não pode evoluir no judô pela falta de treinamento de alto nível.
A decisão foi lamentada pelo diretor de esportes da Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude, Carlos Marcelo Pistoresi, gestor do Centro de Excelência. Segundo ele, as reclamações de Lucas foram atendidas e os atletas responsáveis pelo trote receberam advertências graves. Os pais do atleta queriam que os comandantes do trote fossem excluídos do programa.
"Não tenho provas dele contra os atletas, nem dos atletas contra ele. Eu acredito na palavra dele e também acredito na palavra dos outros atletas. Tenho que ser ponderado e não tomar uma atitude drástica em relação a um ou a outro", afirma Pistoresi.
"Todas as atitudes foram tomadas em comum acordo com o pai Glauco Adnam Ribeiro, o diretor do Conjunto Constâncio Vaz Guimarães Coronel Luiz Flaviano Furtado, eu, que sou gestor do Centro de Excelência, e o sensei dele Hatiro Ogawa", complementa.
"É uma tradição onde há internato. Por exemplo, em qualquer atividade militar, sempre existe a hierarquia. O mais antigo tem certa precedência sobre os mais novos. Ele falou de lavar quimono. Entre os militares os mais novos geralmente engraxam os coturnos dos mais antigos. Isso é comum em qualquer ambiente onde há aglomeração", argumenta o Coronel Luiz Flaviano.
De acordo com Lucas, a maioria das agressões físicas acontecia na parte final do treinamento, quando era realizado o "joga-joga", termo utilizado para definir os exercícios de projeções e quedas. O garoto relata que os veteranos aproveitavam a oportunidade para derrubá-lo em posições que poderiam acarretar contusões.
Após as advertências aplicadas pela diretoria aos veteranos, o jovem acredita que os outros atletas quiseram se vingar pelas reclamações e fizeram com que ele fosse isolado pelos companheiros de treino e de alojamento.
Em um almoço no refeitório, segundo Lucas, dois calouros trocaram de mesa quando ele se sentou para comer. Um amigo que jogou futebol com o garoto após os treinos da noite teria sido punido pelos veteranos no "joga-joga" do treino seguinte.
"O Marcelo falou que puniria quem estava fazendo essas coisas e que elas não aconteceriam mais. Eles pararam as agressões contra mim, mas continuaram com os outros. E eu ainda fiquei isolado, ninguém falava comigo", reclamou Lucas.
O isolamento durou aproximadamente um mês, até que o judoca e os pais resolveram abandonar o Centro de Excelência, apesar da insistência de Pistoresi para que o garoto permanecesse.
Lucas diz ter tomado a decisão após intimidação dos veteranos por se recusar a participar do "joga-joga". Ele conta que precisou se trancar no quarto enquanto outros atletas esmurravam e chutavam a porta com ameaças.
"É natural que você tenha uma desavença com um colega e ele te dê um gelo, se sinta um pouco ofendido. E também é natural que haja um entendimento entre o ser humano", disse o diretor de Esportes.
"Passaram tantos atletas aqui que hoje são campeões mundiais e tiveram problemas, não só no esporte, na vida pessoal, e superaram. O Lucas vai superar muita coisa na vida. Ele é um garoto de fibra e tenho certeza que como bom atleta vai superar isso".
Os pais de Lucas reuniram as denúncias do filho e protocolaram um requerimento na Promotoria da Infância e da Juventude do Ministério Público do Estado pedindo a apuração do caso e a eventual punição dos responsáveis. A Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude diz ainda não saber do fato e só depois de ser comunicada oficialmente estudará possíveis providências.
Divulgação JUDOinforme
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