21/12/2011
Paris, França
Paulo Wanderley é uma fraude!
Por Paulo Pinto / Fotos Revista Budô
Durante o Mundial Sênior, realizado em Paris, a revista Budô entrevistou Jorge Armada, o centro-americano vice-presidente da Confederação Pan-Americana de Judô, que, além de falar sobre o caos administrativo que existe hoje no judô Pan-americano, fez graves acusações contra Paulo Wanderley Teixeira, o presidente da CPJ
Nascido em 1º de fevereiro de 1956, em Cuba, desde jovem Jorge Francisco Armada Sanches viveu entre Porto Rico e os Estados Unidos. Aos 11 anos iniciou a prática do judô e hoje é 6º dan.
Atualmente Armada é assessor da Federação de Judô do Panamá, com apoio da Federação Internacional de Judô. É formado em Educação Física e pós-graduado em Administração Esportiva. Durante 11 anos foi presidente da Federação de Judô de Porto Rico. Escreveu e produziu vários livros e manuais técnicos sobre o judô, e foi assessor da Solidariedade Olímpica, em vários países.
Por cinco anos foi vice-presidente da União Pan-Americana de Judô - UPJ, e atualmente é vice-presidente da Confederação Pan-Americana de Judô - CPJ. Insatisfeito com o rumo que a modalidade tomou nos últimos anos, Armada achou por bem conceder uma entrevista e expor o caos que esta entidade está causando na modalidade.
Conheça um pouco mais sobre este corajoso kodansha, que dedicou grande parte de sua vida ao desenvolvimento do judô pan-americano e caribenho.
De que forma chegou à política esportiva?
Em 1998 fui eleito presidente da Federação de Judô de Porto Rico. Em 2000, após os Jogos Olímpicos, houve a assembléia da UPJ que reelegeu o novo grupo que administraria a entidade. Jaime Casanova concorreu a mais um mandato; Oscar Casineri foi seu secretário; Carlos Dias, o diretor de Arbitragem; Edgar Clauré continuou como tesoureiro; Frank Fullerton, como diretor esportivo e eu saí como vice-presidente e presidente da área do Caribe.
Qual foi seu envolvimento com o movimento que esvaziou a União Pan-Americana de Judô, para criar a Confederação Pan-Americana de Judô?
Eu fui a primeira pessoa que enfrentou Jaime Casanova. Fui também a primeira pessoa punida com uma suspensão de cinco anos. Este processo começou em 2005, quando decidi renunciar ao meu cargo na UJP, pelo comportamento equivocado e a má administração da entidade. Daí por diante exerci uma oposição que visava parar os abusos que há anos se arrastavam em nosso continente. Ao mesmo tempo, Casanova tentou me deter e evitar a minha presença nos eventos continentais, e com isso alguns países começaram a animar-se com a possibilidade de promovermos uma mudança realmente positiva para o judô das Américas. Mas, em meio a tudo isso, eu fui suspenso por cinco anos e fui a primeira vítima fatal da administração que eu havia ajudado a montar. Paralelamente, Paulo Wanderley concorreu à vice-presidência da Confederação Sul-Americana, cargo que exigiu ocupar devido à força do judô brasileiro.
Os demais dirigentes não o apoiaram quando foi suspenso?
Ninguém esboçou a menor reação, e todos se silenciaram; o que fizeram foi observar. Ao mesmo tempo os dirigentes da UPJ trataram de me difamar, através da imprensa de Porto Rico, que era onde eu vivia, e isso afetou até a minha família. Mas sobrevivi e me mantive firme. Sem nenhuma presunção, afirmo que minha postura e coragem permitiram que hoje existisse a CPJ. Em 2008 fomos à Espanha para uma reunião em que vários dirigentes se animaram, e criamos o movimento que pôs fim à ditadura imposta por Casanova. Inicialmente este movimento teve o apoio do Uruguai, El Salvador, Equador, México, Panamá e Brasil, entre outros. Mas destaco que esta reunião foi promovida por Marius Vizer, que naquele momento era presidente da União Europeia, e estava na briga para assumir a presidência da FIJ. Todos nós sabíamos que naquela época Park, o então presidente da FIJ, enfrentava problemas legais referentes ao seu patrimônio familiar. Sabíamos também que Marius Vizer era uma pessoa muito poderosa política e economicamente. Quem convocou a reunião foi Alexandro Blanco, presidente do Comitê Olímpico da Espanha, que sempre foi um grande amigo do judô americano. Desta reunião participaram alguns presidentes da pan-americana, Marius Vizer, Jean-Luc Rougé, presidente da Federação Francesa de Judô, e Juan Carlos Barcos. Foi nessa reunião que começaram o movimento de apoio à candidatura de Marius Vizer à presidência da FIJ e a criação de nova entidade para comandar o judô pan-americano.
Como surgiu o nome de Paulo Wanderley para ocupar a presidência?
Nesta reunião eu mesmo fiz esta proposta, por entender que naquele momento seria a melhor escolha para o judô das Américas. Ele presidia o país mais poderoso financeiramente, e me parecia uma boa pessoa. Por isso, sem que ninguém me pedisse nada, fui eu que lancei Paulo Wanderley à presidência da CPJ. As pessoas acataram minha sugestão e a partir daquele momento ficou decidido que ele ocuparia a presidência.
Quais motivos levaram à criação de uma nova entidade?
O primeiro mandato de Casanova foi extremamente positivo. Indubitavelmente, em seu primeiro mandato foram produzidas mudanças importantíssimas para o desenvolvimento do judô pan-americano. Isso fez com que fosse reeleito por aclamação em 2004, mas, lamentavelmente, a partir daí se iniciou um período obscuro, quando foi implantada uma política perversa de prêmio e castigo, que protegia os simpatizantes do presidente e perseguia seus opositores. Os recursos iam apenas para alguns países, e a UPJ se converteu numa organização arrogante, punitiva e que descumpria constantemente seus estatutos. A ponto de, numa determinada reunião, decidirem que os países que fossem contra suas políticas seriam sumariamente expulsos. Resumindo, foi implantada uma ditadura administrativa perversa e cruel, que nada tinha a ver com os princípios e objetivos para os quais a UPJ havia sido criada.
Mas não havia outra saída?
Infelizmente, não. E afirmo que qualquer nome que fosse indicado naquele momento seria aprovado, pois a UPJ se mantinha no poder por meio do medo e do terror implantados no judô continental. Sem contar que naquele momento tivemos certeza de que daria certo, pois as pessoas mais importantes e influentes do mundo passaram a apoiar nosso movimento.
Naquela época a UPJ gerava recursos, havia dinheiro?
Sim, naquela época havia muito dinheiro, mas os únicos beneficiados eram aqueles que apoiavam Jaime Casanova.
E qual é a realidade do judô hoje?
Na verdade, trabalhei com três administrações. Estou vinculado ao judô pan-americano já há 16 anos. Primeiro acompanhei Frank Carbo, depois foi Sérgio Bahi do Brasil, um excelente gestor, que lamentavelmente faleceu em 1999, e com isso surgiu Jaime Casanova, que protagonizou um verdadeiro desastre – e isso gerou a criação da CPJ. Eu não culpo nosso grupo pela fundação da CPJ, culpo todos aqueles que deram manutenção às políticas absurdas geradas na administração de Casanova.
Qual é o seu balanço dos três primeiros anos da Confederação Pan-Americana de Judô?
Desgraçadamente, a CPJ é totalmente inoperante e inexpressiva. A palavra correta é que até hoje não fizemos absolutamente nada. Na realidade, nestes três anos a entidade não realizou nenhum evento próprio. Não realizou nenhum curso para árbitros, treinadores ou qualquer outra coisa. O pouco que existiu foram eventos nacionais realizados com a chancela da CPJ. Eu mesmo realizei um campeonato pan-americano infantil no Panamá, só que a CPJ não nos deu um centavo para realizá-lo, e ainda tivemos de pagar as passagens, hotel e as despesas de um oficial, do tesoureiro e de um diretor esportivo, enviados por Paulo Wanderley. E qual foi a contrapartida da CPJ? Nenhuma, absolutamente nada. Nem um simples programa de competição nos foi entregue, e esse campeonato consta como evento da CPJ. O único apoio ou recurso injetado nas Américas foi um dinheiro que Marius Vizer enviou diretamente aos países filiados. Até hoje, houve dois seminários, porém ambos foram realizados pela FIJ. Um no Panamá, e o outro foi um curso de administração esportiva, realizado em Miami.
O que é a CPJ então?
É uma caixa vazia. É zero, ou melhor, absolutamente nada. Nunca durante meus 16 anos de judô vi um caos tão grande como o que está sendo protagonizado por Paulo Wanderley. Aliás, nesse período nem um dólar foi gerado pela entidade.
Está pior do que na era Casanova?
Não dá para comparar. Em sua primeira gestão, Casanova criou precedentes que até hoje existem e funcionam, como os campeonatos pan-americanos infantil e juvenil. Ele criou o circuito pan-americano de judô, e foram criadas estruturas de capacitação, enquanto nestes três anos nós não realizamos absolutamente nada.
Você está afirmando que a CPJ é uma grande mentira?
É pior do que uma mentira. É uma enganação, pois serve apenas de fachada para atender aos planos e à ambição de Paulo Wanderley. Sou vice-presidente da entidade e, assim como acontece com toda a diretoria, não possuo nem cartões de visita.
Mas vocês tinham recursos para fazer algo?
Primeiro, quando se administra uma entidade continental, facilmente se geram recursos. Além disso, há alguns anos, a FIJ destinou um milhão de dólares para a CPJ, assim como fez com os demais continentes, mas nosso presidente se negou a receber esse dinheiro até que o problema com o tribunal TAS/CAS fosse resolvido. E com isso eu concluo que nosso presidente tem interesse de manter o judô pan-americano com este perfil baixo. Não interessa a ele ter a seu lado gente capaz e competente, pois o que tratou de fazer desde que assumiu o poder foi afastar de sua administração as pessoas competentes.
Podemos classificar a administração da CPJ como desastrosa?
Acho que não, pois algo desastroso sempre é precedido por uma determinada ação ou atitude, e no caso da CPJ não houve absolutamente nada nesse sentido, porque nada foi feito. Não existe uma forma de classificarmos uma entidade que não desenvolveu sequer uma ação em três anos de existência. Neste período nosso presidente não foi visto nem uma vez no Caribe, e não faltaram convites.
Mas só o presidente pode decidir o que deve ou pode ser feito?
Infelizmente, sim. Na administração de Paulo Wanderley só ele decide e manda. Além de não ter feito nada, ele nunca permitiu que fizéssemos algo. Nosso diretor de marketing apresentou vários planos nesse setor, mas estranhamente ele nunca aprovou nenhum plano ou ação. Nosso grupo tem certeza de que ele quer mais é manter tudo estagnado da forma que está.
Por que ele não aceitou os recursos oferecidos pela FIJ?
Para ter o controle total sobre os dirigentes da maioria dos países. Com esta situação é muito mais fácil e barato para ele adquirir apoio e comprar os votos de que necessita para se perpetuar no poder. Ele dá uma passagem para um, alguns tatamis para outros, e assim a coisa vai se arrastando e ele mantém o judô pan-americano nesse status quo. Para os que reclamam de algo, ele escreve uma carta dizendo que este dirigente não é mais amigo dele, e o coloca no ostracismo. Com exceção de três ou quatro países, os demais vivem todos em situação de miséria extrema e dependem de sua “ajuda” – e ele joga com isso.
E os recursos que ele utiliza de onde vêm?
Nesses três anos a CPJ não produziu um dólar sequer.
E como ele pôde realizar ações como mandar dirigentes de todo o continente para mundiais e grand slams, se a CPJ não gera recursos?
O que se supõe é que faz tudo com recursos da Confederação Brasileira de Judô - CBJ. Pois, até onde sabemos, ele não possui emprego e antes de ser presidente da CBJ era professor e técnico de judô.
Você vê futuro para o judô caribenho e pan-americano?
Enquanto Paulo Wanderley estiver na presidência da CPJ, infelizmente, não. O pior é que ele está convicto de que a América é o quintal do Brasil. Que a América é o lugar onde se jogam as latas de cerveja e todo o lixo que se produz. Mas isso vai custar caro a ele, da mesma forma que custou a Casanova e a todas as pessoas que se apossaram do poder. Ele acha que ainda estamos na época da colônia, quando se dava aos indígenas um espelhinho e todos ficavam felizes.
Em sua analise ele prioriza apenas o Brasil?
Não é nada disso. Ele trata de projetar sua imagem de dirigente por meio dos grandes eventos que realiza. Nunca na história do judô mundial um país sediou dois mundiais sênior, em tão curto espaço de tempo. Em 2007 tivemos o Mundial no Rio de Janeiro e agora foi anunciado que o Mundial de 2013 será novamente no Brasil. Quanto custou isso a ele e ao Brasil? Quanto custa ao Brasil levar uma seleção japonesa para disputar uma competição no Brasil? Será que ele está fazendo o investimento correto? Será que ele oferece o retorno de investimento que o judô brasileiro merece? Pois vemos que os recursos gerados pelo Brasil estão sendo canalizados para sua autopromoção no Brasil, na América e no mundo.
Os eventos realizados no Brasil não proporcionam nada ao judô continental?
Nada além das passagens e hotéis para os dirigentes que o bajulam e o apoiam. Eu penso que seria muito mais útil se continuasse fazendo seus espetáculos no Brasil, e deixasse a América buscar seu próprio caminho para o desenvolvimento. Mas, infelizmente, ele prefere utilizar uma posição que lhe foi dada com muito carinho, respeito e confiança, na esperança de que fizesse na América apenas parte do que fez no Brasil – e esse foi o nosso maior erro.
Quantos países estão filiados à CPJ?
Na verdade existem aproximadamente 42 países que fazem judô nas Américas. Houve um momento em que tínhamos 25 filiados, e hoje devem ser cerca de 30 países, mas isso ninguém sabe ao certo, pois ele esconde até informações simples como essa. A ele não convém ampliar o número de filiados, pois quanto mais países houver, mais ele terá de investir em presentes como passagens, hotéis e equipamento.
Antes de fazer a indicação, você não achou que seria muito poder numa única mão?
Os norte-americanos têm um ditado que diz “follow the money”, ou seja, siga o dinheiro que tudo se esclarecerá. Quando você segue o dinheiro, encontra a razão de muitas coisas, e o nosso caso é um belo exemplo disso. Primeiro nos desligamos de uma entidade, e depois tivemos de fundar outra organização, e isso teve um custo enorme. Quem subvencionou tudo isso foi a Confederação Brasileira de Judô. Nenhum dos demais países dispunha de recursos. Quem arcou mesmo com todas as despesas foi o judô do Brasil, e indubitavelmente tivemos de depositar nossa confiança no presidente da CBJ.
Você acusou Casanova de ser arbitrário e ditador, mas e o Paulo Wanderley?
Se você quer estabelecer uma comparação, digo que Jaime se comportava dessa maneira apenas diante dos seus inimigos. Diante das demais pessoas ele era muito mais sociável, simpático, talentoso, sincero e solícito do que Paulo Wanderley. Mesmo tendo discrepâncias com alguém, ele mantinha uma atitude formal e de respeito. Sua arrogância era institucional e era fruto de sua política punitiva, ou seja, não nomeava árbitros dos países que o enfrentavam e coisas desse tipo, mas até entre os atletas ele era uma pessoa bem-querida. Já o Paulo, não. Ele é um indivíduo que raramente se senta com alguém, e quando o faz é porque tem algum interesse. Ele não comparte, não divide nada com ninguém, e vê apenas o que é de seu interesse. Nosso presidente tem de entender que o Brasil está na América e não na Europa. Ele ainda não entendeu que o Brasil não tem fronteira com a França ou a Inglaterra, e sim com o Paraguai e a Colômbia. Ele tem de conhecer e entender nossa gente, e não criar uma espécie de duas Américas, isso é inaceitável, mas é assim que ele vê o judô pan-americano. Ele gosta de fazer aquela cara de bom moço, mas sabemos que ele só mira seus próprios interesses.
Por que se mostra inimigo dele, hoje?
Em maio houve o congresso de nossa entidade em Guadalajara, e lá solicitamos a realização do Campeonato Pan-Americano Juvenil do Panamá, e isso foi aprovado. Mas, em junho, Paulo Wanderley começou a questionar a realização desse evento naquele país. Na verdade ele nunca desejou que esta competição fosse realizada no Panamá, que, aliás, é o país mais central das Américas. Até que, de forma arbitrária e unilateral, ele desrespeitou a decisão proferida em nosso congresso e cancelou a competição.
Mas como ele pôde cancelar uma competição poucas semanas antes de sua realização?
Porque ele administra o judô pan-americano da mesma forma que faz no Brasil. De maneira arbitrária, ilegal e fazendo tudo como lhe convém.
Na verdade, essa foi uma declaração de guerra. E isso aconteceu por você estar questionando sua administração e criando problemas, certo?
Fui eleito vice-presidente para brigar pelos interesses do judô de toda a América, e não do Brasil. Obviamente o incomodei, pressionando e cobrando resultados. Dizia sempre a ele que tínhamos de trabalhar, desenvolver programas de atividade para todas as regiões e, principalmente, para o Caribe, que é a região mais carente. Precisamos fazer programas de normatização de graduação e, acima de tudo, atender às necessidades do judô de todo o continente. Cobrava dele que parasse de olhar apenas para seus interesses pessoais e para o Brasil. E muitas pessoas disseram a ele que em breve eu estaria criando problemas, devido às cobranças que eu fazia. Sempre fui muito combativo, exigente, e critico tudo que está errado. Seu tesoureiro sempre foi muito cobrado nas pequenas coisas. Imagine que um atleta paga a anuidade e recebe sua carteirinha da entidade apenas oito ou nove meses depois.
Como ficou a relação de vocês após este ato absurdo?
Na verdade, quando Paulo Wanderley é contrariado, ele age como uma criança emburrada. Primeiro escreveu uma carta avisando que já não era mais meu amigo. Depois, aqui em Paris, quando me via nos eventos, nem me cumprimentava. Ele não tem maturidade política, e age como uma criança. Tem certeza de que, com o dinheiro que possui, poderá me neutralizar. Eu soube inclusive da pressão que fez para evitar minha vinda a Paris, mas nosso presidente tem uma postura distinta e age de forma ética e profissional. Ele age como criança mimada.
Quais são os maiores apoiadores de suas políticas?
São os presidentes de El Salvador e do Equador. São suas marionetes e ferramentas de opressão. São dois perdedores que apoiam e dão manutenção às arbitrariedades dele.
Seu grupo criou a primeira dissidência do judô no mundo, e você foi vítima de sua criação. Como vê este quadro?
O que está acontecendo na América é fruto da falta de liderança da CPJ e de seu presidente. Em muitos países temos hoje duas federações nacionais. A falta de desenvolvimento dos países proporciona que qualquer individuo crie uma organização, mesmo que seja uma organização fantasma. O que eu propus ao Paulo e a todo o comitê executivo da CPJ foi um plano de desenvolvimento do judô em nosso continente, e não a instauração dessa política perversa e barata de clientelismo, que troca desenvolvimento por mordomias, passagens, para os presidentes. Minha proposta era construirmos um centro de capacitação e treinamento no Panamá, que fica no centro das Américas. Teríamos de ter uma grade de cursos e eventos ocorrendo durante todo o ano. Estas ações jamais foram pretendidas por nosso presidente, que prioriza a velha política do clientelismo.
Você não acha que, criando a CPJ, deram as costas para a história do judô continental?
Não demos as costas para a organização e, sim, para os líderes que fizeram dela um instrumento de enriquecimento ilícito. A UPJ era a entidade continental mais antiga do mundo. Quem sabe, no dia em que suas lideranças mudarem de conduta, o judô pan-americano volte a unir-se em torno de uma proposta única.
No Brasil é dito que Paulo Wanderley não cumpre acordos e trai seus parceiros. Dentro desse enfoque, quem, além de você, já foi traído por ele, neste processo?
Absolutamente todos os presidentes e dirigentes nacionais das três Américas, porque todos acreditaram nele e achávamos que cumpriria o que prometeu a todos nós. Esperávamos desenvolvimento, progresso, e nos decepcionamos quando descobrimos quem era Paulo Wanderely na verdade. Ele mente e trai com a maior facilidade, e não tem compromisso algum com as coisas que assume. Ele é a mais pura tradução daquilo que costumamos falar na América espanhola, ele é o retrato fiel do imperialista barato.
Qual é a importância do Brasil no desenvolvimento do judô pan-americano?
Da mesma forma que está claro que o judô feminino mais desenvolvido da América é o de Cuba, está claro que o judô masculino, a infraestrutura, os recursos e os treinadores do Brasil são os melhores da América e os melhores do mundo, hoje. Com base apenas nestes dados, eu afirmo que a importância do Brasil no desenvolvimento do judô continental é total. Nenhum país das Américas possui a experiência e a vivência que o Brasil tem. Se isso nos fosse oferecido, certamente nosso desenvolvimento seria surpreendente. Mas eu te pergunto: quantos cursos técnicos, de arbitragem, de administração esportiva ou clinicas foram realizados pela CPJ no Brasil, ou fora dele, nestes três anos? Infelizmente, nenhum.
Quem será o próximo dirigente que terá o pescoço cortado?
Já tivemos o Ignacio Aloise e eu, que curiosamente fomos os maiores responsáveis por ele estar onde está hoje. Mas acho que ele vai ter de pensar muito antes de expulsar outros dirigentes da entidade, pois estas coisas acontecem em longo prazo. Mas, da forma que conduz, a coisa provavelmente irá cair muito antes do que imaginamos. Porque muito mais talentoso, habilidoso e confiável do que ele foi o Casanova, e veja como ele terminou.
Valeu à pena desmontar a UPJ?
Sim. Valeu à pena porque aquilo estava insustentável. Aquilo virou uma monarquia, em que o rei Casanova, rodeado por seus duques, estava sufocando cada vez mais o judô pan-americano. Nós pensávamos um judô mais democrático e buscávamos desenvolvimento.
Qual é o adjetivo que melhor traduz as ações de seu presidente?
Fraude. Lamentavelmente, o Paulo Wanderley é uma fraude.
Vocês não sabiam das ferramentas que ele usa para manipular o judô do Brasil?
De forma alguma. Nós sempre acreditamos que estávamos lidando com um dirigente honesto e trabalhador. Após oito meses no poder, o Ignacio fez duras críticas a sua administração e colocou o cargo à disposição. Todos nós ficamos surpresos com a sua arrogância e total inoperância.
Os dirigentes dos demais continentes sabem quem é Paulo Wanderley?
Infelizmente não. Todos conhecem e veem apenas o show que ele produz. Ninguém imagina quem é Paulo Wanderley. Ele mostra aquilo que lhe convém e, quando as pessoas vão ao Brasil, são todas muito bem tratadas e saem de lá encantadas pelo que veem.
Marius Vizer sabe o que está ocorrendo na CPJ?
Sim, ele sabe e faz aquilo que deve fazer, como dirigente mundial. A América é um problema da América, e ele não intervém em assuntos internos. Marius Vizer sempre respeitou o direito dos países, e nunca deixa de ajudar os que necessitam de ajuda, e isso o Paulo Wanderley não pode impedir.
Como ele e o comitê executivo da FIJ vêem mais esse fracasso administrativo no continente?
Como já disse, nosso presidente é extremamente ético e não faz incursões no judô continental, mas posso afirmar que ele não está satisfeito e todo o comitê executivo está apreensivo. O problema UPJ x CPJ, tem prejudicado e comprometido a imagem do judô mundial.
Qual foi o maior erro de Paulo Wanderley?
Enganar todos nós.
Soubemos que ele trouxe para Paris mais de 20 dirigentes da América. Isso é real?
Sim é verdade.
É verdade que ofereceu um jantar e foi questionado por não ter convidado você e Ignacio Louise?
Sim, é verdade. Ele respondeu que aquele jantar foi oferecido pela Confederação Brasileira de Judô, e por isso ele só convidou seus amigos. Agora, como ele pode gastar 8 mil ou 10 mil dólares num jantar? E isso não é nada diante do custo das passagens, hotel e despesas de toda essa gente. Sem contar as pessoas que estiveram a serviço dele em Paris. Acreditamos que trouxe à França um contingente de mais de 100 pessoas, e isso custa muito dinheiro. A pergunta é: quem está pagando a conta,
já que a CPJ jamais produziu um centavo sequer?
A América fez um péssimo papel no congresso técnico realizado em Paris. O que aconteceu?
Um dos momentos mais negativos do judô pan-americano aconteceu durante o congresso realizado aqui em Paris. Todos os continentes mencionaram ou destacaram o trabalho dos principais judocas de cada região. Esta apresentação ocorreu em função da comemoração do 60º aniversário da FIJ. Só a América se omitiu e não apresentou nenhum nome. Apenas para dar um exemplo, poderíamos ter homenageado o professor Veitia, de Cuba, um técnico que conquistou mais de 20 medalhas olímpicas, mas ninguém foi lembrado ou citado durante o congresso. Isso foi terrível e mostra a irresponsabilidade do nosso presidente. O mesmo ocorreu no jantar de gala realizado no Opéra Garnier de Paris, onde os principais judocas de cada continente foram homenageados, e nós não apresentamos absolutamente nada. Pareceu que nós jamais conquistamos nada nos quase 60 anos de existência da UPJ.
Qual é o perfil ideal de um dirigente atuante?
Um presidente atuante estabelece projetos e estratégias, e não as dirige. Estabelece uma linha de ação, de trabalho, e cobra resultados. O Paulo Wanderley centraliza tudo e reprova qualquer coisa que escape ao seu controle. Ele vetou todos os projetos de marketing apresentados por nosso diretor. Jamais levamos uma ação a cabo, pois ele não nos permitiu realizar absolutamente nada. Poderíamos ter gerado uma quantidade enorme de recursos para o judô continental, mas, paradoxalmente, em três anos não fizemos absolutamente nada, porque nosso presidente não permite ou aprova nenhuma ação.
E todas estas reuniões, viagens e ações políticas foram feitas com recursos do Brasil?
Imaginamos que sim. Quem poderia arcar com estas despesas?
Apesar de todo o prejuízo causado pelo desvio destes recursos, quem perdeu mais, o Brasil ou o continente?
Bom, no assunto de dinheiro, foi o Brasil; na questão do desenvolvimento da modalidade, certamente foi a América, que lamentavelmente, hoje, está pior do que antes.
E como Cuba vê tudo isso?
Os cubanos têm uma situação muito peculiar com relação à sua capacidade econômica, mas, paradoxalmente, faz muito tempo que Cuba não está mais na América. Eles estão na Europa. Desde 2000 eles estão na Itália, França e Espanha. Agora é que eles estão participando dos eventos da América que são classificatórios. Eles não vão gastar o pouco dinheiro que têm para ir a um pan-americano para lutar contra quatro alguns loucos de cabeça raspada. Quando eles têm dinheiro, vão para França ou qualquer outro lugar onde haja um judô forte. Dessa forma, são totalmente indiferentes ao que acontece na América. Se Cuba foi à Copa do Mundo por equipes realizada no Brasil, você pode ter certeza de que foi a CBJ que pagou todas as despesas. Os cubanos não disputam competições que não somam, e pode ter certeza de que é o Brasil que injeta grande parte dos recursos de que Cuba dispõe hoje em dia. Por outro lado, no Campeonato Pan-Americano realizado este ano em Guadalajara, eles atropelaram o Brasil.
Por Paulo Pinto / Fotos Revista Budô
Divulgação JUDOinforme
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